DE TUDO UM POUCO
MLCB©2011/2024-Maria da Luz Fernandes Barata e Carlos Barata
Portugal
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CRÓNICA DE UMA GAIVOTA
Hoje, ao contrário de ontem, o dia está esplendoroso.
O mar já chamou por mim, mas porque não sinto aquela vontade, não respondi ao seu apelo.
Contudo, sozinho qual Fernão Capelo mas já com a dose de sensatez adequada a estas aventuras, parti para o meu voo matinal, deixando para trás o meu clã, que languidamente descansa à beira do mar, observando o horizonte e ao mesmo tempo a movimentação das pessoas.
Do alto, de asas bem abertas e olhar atento contemplo o contorno da terra, o meu clã e as pessoas.
E foi nesta observação, que deparei com eles.
Reconhecê-los-ia em qualquer praia ou lugar do mundo.
São pessoas, um casal que adora caminhar na praia. E não só; adora apanhar conchas.
Fazem disso um hobby e tranquilamente vão fazendo a sua caminhada diária, enquanto eu voo, plano ou mergulho na busca de refeição.
Para eles, sou um desconhecido.
Sou apenas mais um do nosso clã.
Sei que nos observam e gostam do nosso porte e ela adora fotografar-nos.
Mas o que eles não sabem é que eu sou o tal que num dia de verão já há alguns anos num outro local, entrei atrevidamente na sua sala, para debicar uma decoração pendurada junto à janela, feita com objectos com que me deparo diariamente nas minhas deambulações pelos despojos existentes junto à orla do mar.
Nesse dia, vi-os de perto e ouvi as suas vozes, conversando comigo e querendo uma maior aproximação, enquanto eu continuava a debicar furiosamente a tal decoração.
Acabei por sair e lentamente bati asas.
Regressei ao meu habitat, ao meu clã.
Na varanda, observaram a minha partida inesperada com alguma nostalgia.
E ternura também.
ML/25/09/2010