DE TUDO UM POUCO 

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Portugal 

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Voando acariciada pelo vento, uma folha de acácia ganhou velocidade e foi pousar ao pé do banco de um jardim qualquer, que não era o seu...
Sentado nesse banco, lendo as últimas notícias publicadas, estava um homem de meia-idade. Perto dele, brincando com algumas das folhas que iam caindo suavemente da árvore que os abrigava, anunciando já um Outono antecipado, estava um petiz.
Era o neto.
A criança, feliz, corria atrás das folhas enquanto elas decidiam onde iriam parar; depois, olhava para elas, desfalecidas de uma viagem às vezes longa demais e imaginava o que poderia fazer com elas.
Colocá-las talvez dentro daquele livro de estórias que tanto gostava e do qual todas as noites o avô escolhia uma, para ele dormir melhor; colá-la numa folha de cartão e pendurá-la na parede como se fosse um quadro; ou quem sabe, deixá-las ali, para que o tapete que ele tanto gostava de ouvir ramalhar, fosse crescendo, crescendo até não se verem as pedrinhas do jardim. Seria lindo!... O menino estava encantado. Aquela manhã de domingo, revelava-se diferente.
O avô, zeloso, de tempos a tempos interrompia a leitura do seu jornal, para observar a alegria que o neto transparecia através dos risos e movimentos, enquanto brincava com parte da natureza que se renova ano após ano.
Chama-o para que não se afaste demasiado ou para lhe dizer que não ponha as mãos na boca.
Tal como as pessoas, as folhas misturavam-se. Eram de formatos e cores diferentes, iam e vinham de todos os lados, levadas e trazidas pelo vento, por outra criança ou simplesmente pela sola do sapato de alguém que tal como o petiz, adorava passear sobre elas, para as ouvir, para sentir a sua leveza e a proximidade da terra. Até que viu aquela que de imediato sentiu ser “especial”.
Era a folha de acácia. O recorte era diferente, a cor também. Chamou de tal forma a sua atenção, que não resistiu e apanhou-a. Saltitando e rindo, chegou ao pé do avô, fez-lhe cócegas com a folha e perguntou:
- Avô, já viste como esta folha é diferente?! Vou levá-la comigo e guardá-la na minha caixinha dos tesouros. Anda, vamos para casa.
Naquele instante, o facto de ter algo diferente e maravilhoso, encheu-o de uma alegria também ela, diferente. Achou que tinha ali um grande tesouro que teria de ser guardado com muito carinho e cuidado. E assim foi...
Ainda hoje, já adulto, a tem naquela caixa que ele um dia chamou “A caixa dos tesouros” e onde se encontravam as coisas mais díspares. Algumas, deixaram de ter significado porque a idade já é outra e a maneira de ver as coisas também. Deitou quase tudo fora.
Mas aquela folha...
Não conseguiu!
Não é saudade!
Compreendeu que ele, tal como aquela folha que um dia lhe fez despertar uma atenção muito particular, era uma minúscula partícula da natureza. E guardou-a para sempre!
Para o lembrar...   

ML/1998
 

O TESOURO DO PETIZ

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